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O altar e seus acessórios

No Brasil, muitas vezes as comunidades católicas ficam confusas diante de tantas orientações diferentes e contraditórias sobre a forma como se deve preparar o espaço litúrgico para as celebrações eucarísticas. Fica a impressão de que tudo depende do gosto do pároco ou do bispo locais, ou do perfil pessoal da(o) liturgista que assessora o curso de formação.

Mas não é bem assim! Nós, que trabalhamos com liturgia (ministros ordenados e agentes leigos de pastoral litúrgica), temos um precioso instrumento oficial de trabalho que nos dá a orientação mais certa e segura: o MISSAL ROMANO. É nele que devemos buscar as respostas sobre como preparar cada detalhe da Sagrada liturgia, para que o culto que prestamos a Deus - como Igreja, por Cristo e no Espírito Santo - seja verdadeiramente CATÓLICO, isto é, UNIVERSAL, seguindo a longuíssima tradição que vem desde os tempos dos Apóstolos.

No rito latino da liturgia católica, que é o nosso, a Santa Sé - isto é, o Bispo de Roma (Papa) e as instituições que o ajudam em seu ministério petrino - concede à Conferência dos bispos de cada país o direito de autorizar adaptações de alguns elementos que sejam necessários, para que cada geração e cada cultura vivam a liturgia com participação plena, como determinou o Concílio Vaticano II. Mas essas mudanças são EXCEÇÕES. A regra continuará sempre sendo o MISSAL ROMANO.

Afinal, como organizar o presbitério para uma celebração eucarística? Como deve ser ornamentado o altar? Para responder, vamos à INSTRUÇÃO GERAL DO MISSAL ROMANO (IGMR), documento que está no início do Missal para que todos nós estudemos. Vou citar o texto da Terceira Edição Típica do Missal reformado por ordem do último concílio; esta edição foi promulgada por João Paulo II em 2002; ela ainda não está em vigor no Brasil, pois os trabalhos de tradução ainda estão em curso; porém, a IGMR desta Terceira Edição já foi traduzida e publicada por algumas editoras brasileiras e já podem ser estudadas e implementadas, até porque não mudam nada de essencial para a validade sacramental, em relação à Segunda Edição Típica (de 1975), que é a que usamos em nossas celebrações.

Diz o n. 117 da IGMR:

"O altar deve ser coberto pelo menos com uma toalha de cor branca. Sobre o altar ou perto dele, dispõem-se, em qualquer celebração, pelo menos dois castiçais com velas acesas."

Portanto, é equivocada a determinação de que "a toalha do altar TEM QUE ser da cor litúrgica do dia"; pois, como vimos, a toalha do altar pode ser - e é até melhor que seja - sempre branca. Também não é verdade que se tenha que colocar suportes de velas ao lado do altar; pois a orientação é clara: as velas podem ficar SOBRE ou AO LADO do altar. Não se deve pensar que CÍRIO PASCAL e COROA DO ADVENTO (esta última nem aparece no Missal, sendo paralitúrgica) substituem as velas do altar, pois são símbolos completamente diferentes.

Continua o n. 117 da IGMR:

"Igualmente, sobre o altar ou perto dele, haja uma cruz, com a imagem de Cristo crucificado. Os castiçais e a cruz ornada com a imagem de Cristo crucificado podem ser levados na procissão de entrada."

O que é mencionado primeiro tem a preferência; portanto, o crucifixo (e não apenas uma cruz sem a imagem do crucificado) deve estar SOBRE ou JUNTO do altar. O Papa Bento XVI, no livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", sugere que o crucifixo seja preferencialmente colocado sobre o altar e voltado para o centro do altar (e não para o povo), significando que o que está retratado no crucifixo é o que acontece sobre o altar na Eucaristia. Dessa forma, o sacerdote que celebra e também a comunidade que participa ficam todos "orientados" para Cristo, que está sinalizado pelo Altar e pelo Crucifixo; assim, o centro visual da celebração deixa de ser o ministro presidente, impressão que é no mínimo equivocada e inconveniente.

Veja, em algumas fotos, exemplos de como se deve colocar em prática este número da IGMR:


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